terça-feira, 5 de abril de 2011

A menor máscara do mundo



"O nariz do palhaço é a menor máscara do mundo, a que menos esconde e a que mais revela."

Todo mundo já se emocionou diante de um clown, mesmo sem saber. Clown não é simplesmente um personagem ou um estilo teatral, uma linguagem. Clown é um estado de espírito. Muitas pessoas são verdadeiros clowns em seu cotidiano sem percebê-lo.
O clown é puro, ingênuo e, por isso, muitas vezes engraçado, o que nos leva – vez ou outra - a confundi-lo com outros palhaços. Ao pé-da-letra a tradução do idioma inglês nos diz isso: “rústico, rude, torpe, indicando depois quem com artificiosa torpeza faz o público rir. É o nosso palhaço.”(Alfredo Panzini) . Mas é preciso compreender as sutis diferenças entre palhaço e clown. Vários autores diferem quanto a estas sutilezas, porém o público interessado poderá tirar suas próprias conclusões, pois mesmo dentro de uma definição, há variáveis.

Palhaço é aquele que vemos nas ruas, nas feiras. Clown está mais ligado ao palco, à arena do circo. O clown é a sombra, o instinto, parte irracional do homem, o enganado e o enganador. No teatro, quando falamos em clown, lembramos primeiro da menor máscara física que existe: o nariz. A partir do foco que ela nos dá seguimos o olhar muitas vezes ingênuo do clown. Mas ela não é parte indispensável da linguagem, pois, como já foi dito, nem percebemos quando um clown está à nossa frente no trabalho, na família, no teatro. Ele simplesmente nos envolve. Algumas vezes engraçado, noutras patético. Fazendo rir.

Também é comum se ouvir falar do ‘clown de fulano’, ciclano dizer que não achou ainda “o seu clown”. Por que o clown é o ator nu, sem subterfúgios, sem ‘máscaras’ preparadas de piadas prontas. Ou seja, achar o clown em si é encontrar o humor sem trapaças, colocar em jogo a si mesmo, sem medo do ridículo, sendo autêntico. Honesto. Verdadeiro. Com vontade e muita concentração. É necessário estar atento o tempo todo e de maneira humilde fazer rir, construindo pontes entre as pessoas. Sem medo de ter perdido tempo. Ora, como fazer isso se não for inteligente? Por todos estes motivos, diz-se que não há maneira de uma escola ensinar verdadeiramente a “técnica de clown”.
Um verdadeiro clown faz rir de si mesmo e não à custa dos outros. Ser clown é uma filosofia de vida pra um artista. “Cada um tem sua pequena filosofia... A minha é não poder conceber meu trabalho senão como um clown honesto e verdadeiro: sua atitude e seu caráter transmitem-se através de sua arte, portanto é interessante tentar mostrar-se humano, gentil, com humor. Minha vida, meu ofício, tudo está no mesmo saco!”
Mesmo quando se retira de cena, o palhaço dá uma lição de vida e perseverança e talvez por isso se diga que, dentro das artes cênicas, fazer rir é uma arte à parte.
1. Alfredo Panzini, em seu Diccionario moderno.
2. GROCK: http://br.youtube.com/watch?v=jb_our5nLn4&feature=related
3. OLEG POPOV: http://br.youtube.com/watch?v=6iedTnII23c&feature=related
4. DIMITRI : In "Clowns & Farceurs", Ed. Bordas, Paris, 1982, p. 36-37. Tradução de Roberto Mallet
5. FELLINI: In "Fellini por Fellini", L&PM Editores Ltda., Porto Alegre, 1974,
Tradução de Paulo Hecker Filho.
6. JE aplauso: http://www.jeinformaaplauso.blogspot.com/

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